Quem sou eu

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Eu gosto de acreditar que “o pensamento é um pedacinho de futuro, que permanece no campo do sentimento até o momento em que se materializa”. Eu gosto de pensar, porque, assim sendo a vida, provida da qualidade de transformar o verbo em tudo, tudo vira possibilidade a partir de um pensamento, já que tudo se inicia a partir dele e tudo se realiza a partir de um sim. Os cientistas quânticos descobriram, agora de fato, que cada ser deste vasto universo possui o predicado de construir o seu mundo, com as nuances próprias de cada um e suas preferências. É portanto que desejo a sabedoria dos filósofos, mas, ainda mais, a realização dos meus pensamentos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

EPITÁFIO



Não é sempre que eu aperto a tecla pause para refletir sobre os valores que tenho agregado à minha vida e avaliar como estou lidando comigo ou com os meus e as minhas, pois sou atropelado todos os dias pelos acontecimentos deste nosso mundo carregado de ilusões e catástrofes.

Mas, tenho pensado nisso ultimamente, mais ainda depois que recebi pelo WhatsApp um vídeo com a música Epitáfio, dos Titãs. 

Refletindo e ruminando a música, estranhamente, pensei na morte para pensar na vida.

Não me considero um louco por isso, ou no mínimo não sou o único, pois o livro Eclesiastes revela que "melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos o tomem em consideração".

Aproveitando a loucura, pensei também no presente para pensar no passado. É como a música: diz do arrependimento das faltas e fatos do passado projetando reflexões para um futuro que se molda no presente, este que é o único tempo que está ao alcance e que pode ser repensado. 

Não fosse assim a filosofia não faria sentido, pois o que chamamos de futuro é nada mais do que a projeção do resultado do que se faz agora; já, quanto ao passado, até o momento a ciência não descobriu outra coisa que conseguisse viajar no tempo, para o passado, e mudar o presente, senão o perdão. Futuro e passado são coisas estéreis, inaptas pela própria natureza para influenciar por si só a vida de alguém, simplesmente porque não existem.

Esta constatação me dá a certeza da incapacidade minha de mudar qualquer acontecimento ou decisão do passado - o que foi está feito, já era. Pelo menos até agora, diante do tempo somos passivos, apenas o observamos passar e tentamos utilizá-lo do melhor jeito possível. Por isso mesmo, na plena convicção da minha incapacidade de excluir ou alterar qualquer acontecimento acontecido, não desmerecendo a bela reflexão que a música desperta, subtraí do meu dicionário algumas expressões do tipo: devia ter - podia ter...  elas não servem para nada.

É óbvio que as experiências vividas ajudam muito na tomada de decisões - conselhos de pessoas mais vividas também - mas se sofremos por reflexos de alguns fatos do passado, é porque ainda não concebemos que os traumas e decepções não são naturais, são recalques inventados pelas pessoas. Deus criou o sentimento e nós inventamos o ressentimento e a culpa. É por isso que tudo é passível de ressignificação, basta apenas perdoar, principalmente a si mesmo, para perceber um mundo diferente.

Ademais, não acredito no sentimento de culpa como método terapêutico para ativar a consciência de pessoas, pois, ao contrário disso, é especialmente do sentimento de culpa que nasce a violência. Se prestar atenção, vai ver que muitas pessoas com atitudes tiranas guardam consigo um certo grau desse sentimento.

Se eu tiver a consciência de que tudo o que acontece na minha vida é fruto das minhas próprias escolhas e não causado pelo outro, com certeza estarei no caminho da redenção e elevação espiritual, isso sim é saudável e verdadeiro, mas sentir culpa não é bom.

No ritual da missa católica há um momento em que afirmamos “por minha culpa, minha tão grande culpa”. Confesso que apesar de respeitar de todo coração os rituais da minha religião, essa parte eu pulo. Sei que a intenção desse gesto é justamente me trazer à responsabilidade sobre os meus atos, de criar a consciência de que não posso jamais culpar o outro pelas minhas tristezas e frustrações, mas do jeito como é intuído, para mim fica parecendo que se quer embutir um sentimento de culpa. Isso já foi eliminado quando Jesus se sacrificou pelos meus pecados para que eu jamais sinta culpa do que quer que seja. Arrependimento sim, culpa não.

Pensando se devia ter visto o sol nascer, arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer, acho que fiz tudo isso - principalmente no item “ter errado mais - acho que não deu para errar mais do que eu errei. Sei que o compositor fala do erro natural de qualquer humano, sem culpa; mas errei naturalmente, e muito. Isso tudo eu fiz, talvez não na porção que me trouxesse mais alegrias, mas na proporção de como eu me encontrava no momento em que vivi cada experiência. Usei os recursos que tinha na ocasião, e da melhor forma que poderia, dentro, é claro, das minhas limitações.

Também penso se queria mesmo ter aceitado as pessoas como elas são, porque aprendi que, enquanto eu não aceito as pessoas como elas são, de fato estou lutando contra as coisas que eu não aceito em mim mesmo. Ninguém consegue enxergar no externo o que não está armazenado no interno, ou seja, o que enxergo no outro é só um reflexo dos sentimentos e conceitos que estão dentro de mim. Então, esta compreensão, de que a cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração, me faz mais tolerante.
 
Eu poderia sim ter complicado menos, trabalhado menos e ter visto o sol se pôr. Leonardo da Vinci disse que “a simplicidade é o último grau de sofisticação”, complicar menos é um processo. Mas, seria muito mais fácil se eu não tivesse que pisar nesse chão, pois nasci sem asas, diferente dos pássaros que não semeiam, não colhem, nem armazenam em celeiros - as minhas asas eu mesmo precisei costurar na medida em que conseguia complicar menos e trabalhar menos, foi quando eu pude começar a ver o sol se pôr.

Até então, enquanto não aceitava a vida como ela é, com certeza me importei com problemas pequenos, eles fizeram parte de tudo o que eu precisava para descobrir o mistério da minha existência, porém, enquanto isso, morria de amor juvenil. Não menosprezando o meu amor, este pudesse ter sido maior, pois amei e amo intensamente sem medida, arrependimentos ou culpas, mas se comparado ao infinito amor de Deus, é com certeza um amor muito mesquinho.

Neste momento eu não diria que estou arrependido da vida que vivi, tudo foi necessário e significativo para aprender as lições mais importantes, valorizar cada pessoa que passou pela minha vida e aprender a amar. Talvez eu não saiba expressar tudo isso, pois não fui provido de uma personalidade que exponha os meus sentimentos, eu só espero que tudo se revele pelos frutos.

Por tudo isso, se me perguntassem qual a mensagem eu deixaria hoje na minha lápide, eu diria: Deixe seu legado na vida espiritual, pois é só o que somos, e mencionaria um trecho da música francesa Comme d’habitude, que foi eternizada por Frank Sinatra na versão em inglês My Way:
I've lived a life that's full  /  Tenho vivido uma vida completa
I traveled each and every highway  /  Viajei por cada e todas as rodovias
And more, much more than this  /  E mais, muito mais do que isso
I did it my way  /  Eu o fiz do meu jeito

A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

Nunes 




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