O dicionário Priberam trata a intimidade como "essência" e, o que é íntimo, como "o que existe no ânimo ou no coração", ou ainda, "que envolve contatos sensuais ou sexuais".
Todas estas declarações, acrescentadas de outras que iguais acabam chegando à mesma definição, qual seja, que a intimidade é a impressão digital de um ser, o código único que determina a identidade de cada um, resume a sua importância como sendo um tesouro que deve ser guardado a sete chaves, porque, a minha intimidade é tudo o que eu tenho, ela é a chave de tudo.
O meu destino, as minhas conquistas, as pessoas que me são caras, o sucesso profissional e pessoal, ou seja, tudo que diz respeito à minha vida está ligado à minha intimidade.
Não dá para sair por aí distribuindo intimidade, porque o seu valor é como ouro, caro pela raridade.
E ainda, para que alguém se torne íntimo de mim há que se valorizar um outro componente, a confiança.
Por isso, não é qualquer pessoa que tem acesso à minha intimidade, são poucas em quem eu posso confiar para serem portadoras do meu tesouro.
Tudo isso pode parecer óbvio, algo que desde criança eu ouço intermitentemente. Mas, a intimidade também explica outros aspectos da vida que faz valer a pena refletir.
Pensando no papel da intimidade na vida de um casal, por exemplo, percebi que trata-se do mais forte elemento de união que há entre ambos.
Um homem deseja se sentir valorizado no seu lar, assim como a mulher. Se o mundo trata todos os mortais como meros mortais, pelo menos no domínio de um lar, o marido é o rei e a esposa a rainha. O rei trata a sua rainha como rainha enquanto cúmplices e assim também a rainha trata o rei. E a cumplicidade entre ambos só acontece se houver intimidade.
E, se intimidade é essência, como pode alguém ser cúmplice do outro sem conhecer a sua essência? Como pode o rei ser cúmplice da rainha, ou vice-versa, sem conhecer todos os seus predicados, sendo eles belos ou nem tanto?
Porque expor a intimidade é expressão de confiança. Quando eu exponho a minha intimidade para alguém eu estou de certa forma afirmando que "confio nesta pessoa".
É uma corrente que não dá para desprezar.
Na definição do dicionário, também a sensualidade e a sexualidade estão diretamente relacionadas com a intimidade. É natural que esteja porque ser íntimo de alguém é compartilhar confiança, que, por sua vez, provoca o start da libido.
Talvez seja este o motivo de tanto sofrimento quando um do casal é traído. De fato, quando alguém resolve "pular a cerca" este alguém está distribuindo intimidade, ou seja, o seu rei ou a sua rainha já não tem mais exclusividade nela.
Em outras palavras, o rei ou a rainha perde o trono e passa a ser um plebeu mortal e vulnerável.
E aquele que sobrou já não sabe qual a proporção que possui da intimidade do seu companheiro ou da sua companheira, se é que ainda possui algum resquício dela.
Pensemos na confiança que gera intimidade, principalmente naquela que nos é depositada. Cuidemos muito bem dos tesouros alheios. É uma atitude que com certeza será um pedacinho de uma vida melhor.
Nunes