Necessitando substituir o aparelho de ar condicionado da minha sala, pesquisei as marcas
disponíveis no mercado, as suas funcionalidades e a reputação de cada uma segundo as
avaliações. Cada uma delas tinha o seu rol de vantagens e desvantagens. Porém, uma delas,
a Mitsuo, oferecia preço competitivo e garantia estendida desde que fosse instalada por
um credenciado, embora eu conhecesse um bom instalador, mas este não possuía tal
credenciamento.
Na cidade onde eu moro, havia cinco pessoas e empresas credenciadas na Mitsuo, porém,
apenas uma tinha disponibilidade para fazer a instalação, as demais estavam sem espaço
na agenda ou já não prestavam o serviço. Com a única opção, combinamos a instalação
para a quinta-feira, às 13h30min.
A minha esposa estava em casa nesse dia. Ela, então, desmarcou os seus compromissos
vespertinos e aguardou o tal instalador. Por via de regra, não por preconceito, mas por
conceito, consideramos que vivemos no Brasil, por isso não foi novidade que ele não
tenha chegado no horário, e que o compromisso foi sendo adiando hora após hora, por
meio de mensagem de Whatsapp. Mas, terminou o dia e, em resumo, a minha esposa
não pôde realizar seus compromissos, e tampouco o técnico chegou para instalar o
aparelho.
Remarcamos a instalação para as primeiras horas da sexta-feira. Nesse dia, a minha
esposa já não estava na cidade, por isso, eu precisei me ausentar do trabalho para
acompanhar a performance do famigerado instalador. 9h02min foi o momento em que
recebi a seguinte mensagem do instalador: “estou a caminho da sua casa”. Saí do trabalho
e fui aguardá-lo. Mais uma mensagem: “estou chegando”. Porém, já passava das 10h30
min quando ele chegou no endereço, saindo da minha casa às 15h40min, e tendo feito um
péssimo trabalho. O aparelho eu não pude ligar, pois o dreno estava interrompido e,
por isso, retornava água sobre a minha TV. Ainda, cobrou adicionais indevidos (duzentos
reais para complemento de gás e cento e cinquenta reais por uma solda no tubo de cobre,
e mais o serviço de instalação). Não bastasse tudo isso, ele sabotou o tubo de cobre para
vazar o gás para, certamente, cobrar novamente pelo serviço do conserto.
Eu recusei qualquer outro serviço desta pessoa, e decidi entrar em contato com o
representante da marca. Após analisar a situação e as mensagens grosseiras do seu creden-
ciado, o representante informou que iria romper o contrato com esse prestador de serviço.
Porém, não se propôs a pagar os custos do instalador que eu precisei contratar para “desin-
stalar e reinstalar” o equipamento, apenas manteve a garantia da marca quanto às peças.
O novo instalador que contratei já era conhecido, e orçou a seiscentos reais a desinstalação
e reinstalação do equipamento. Chegou na hora combinada, respeitou o espaço, cumpriu o
check list necessário e entregou o aparelho funcionando perfeitamente. Muito organizado
e confiável, tanto que eu o deixei em minha casa e voltei ao trabalho enquanto instalava o
aparelho. Perfeito! Tudo resolvido!
Mas, ao me passar a conta, acrescentou cem reais no valor previamente combinado. Per-
guntei-lhe o motivo, quando me respondeu que o trabalho foi muito exaustivo, pois pre-
cisou remover parte de duas matajuntas de madeira do forro para ter acesso à mangueira
do dreno.
Tudo certo, paguei os setecentos reais e encerramos o assunto.
Peço perdão por ter detalhado tão ricamente a história para chegar no ponto onde pro-
ponho uma reflexão.
Eu já fui vendedor por um longo tempo, já vendi seguros de vida, financiamentos
bancários, consórcios, produtos eletrônicos do Paraguai, postes de concreto, estruturas
pré-moldadas de concreto e concreto usinado. Por isso, precisei descobrir a essência da
profissão para garantir as comissões dessas vendas.
Hoje, eu não tenho dúvida quanto à importância do NOME de uma pessoa, seja ela física
ou jurídica, e que um vendedor deve, antes de se propor a vender o seu produto,
saber vender-se a si próprio. Aí entra a valorização do seu NOME, pois, com exceção de
receptadores, as pessoas evitam comprar produtos de alguém sem uma boa reputação.
Para ilustrar o que estou afirmando, proponho aqui analisar a conduta de cada um dos
envolvidos: - do primeiro instalador, da marca Mitsuo e do segundo instalador, que são os
“vendedores e co-vendedores” do produto e do serviço. Mas, antes, consideremos o
que eu teria a oferecer aos três, em contrapartida, além do pagamento: - Sou bastante
comunicativo e proativo, por isso, tenho uma vasta rede de contatos no trabalho e fora
dele. Tenho um NOME respeitado em todos os ambientes que frequento e moro num
condomínio no qual também tenho credibilidade. Tudo isso, tanto para indicar bons
profissionais como para alertar sobre os maus. Além de ter criado um canal de
comunicação com a marca.
O primeiro instalador já foi descartado do meu network, não serve para o mercado, e
não o indico sequer para um potencial inimigo.
A marca perdeu a oportunidade de fidelizar um consumidor e de aproveitar a ocasião
para somar marketing positivo com pouco investimento. Eu conheço a legislação e o
senso comum. Se uma empresa declara outra empresa ou prestador de serviço como
seu credenciado, ela é responsável por tudo o que esse credenciado realiza em seu
NOME, tanto positiva como negativa. Mas, eu preferi não ter o incômodo de buscar
meus direitos legais e pedir indenização pelo meu prejuízo, inclusive pelo incômodo
de ter ficado uma semana sem ar condicionado na minha sala, e de ter sofrido zomba-
rias e ameaças do seu credenciado, que ainda levou embora o meu aparelho antigo sem
nenhum constrangimento. Por isso, não empenho o meu NOME para recomendar a
Mitsuo como marca de ar condicionado.
Quanto ao segundo instalador, ele pediu para que eu o indicasse no condomínio em
que moro e no meu ambiente de trabalho. Pediu também que eu intercedesse junto
ao representante da Mitsuo para reforçar o seu pedido de credenciamento, pois tenho
influências que podem ajudar. Porém, embora ele tenha feito um trabalho perfeito e
confiável, tenha tido a melhor postura e deixado o ambiente perfeitamente limpo,
não me pagou para eu empenhar o meu NOME em seu benefício, pelo contrário,
onerou em mais cem reais.. Vou explicar…
A própria natureza é uma grande organização de trocas. Tudo é baseado no escambo.
Se respiramos, é porque aspiramos viver; se sou simpático, é porque valorizo o sorriso
e o bom ambiente, o qual eu moldo com sorriso; se trato bem um vizinho, é porque
busco evolução; se uma planta cresce acima da copa das outras árvores, é porque neces-
sita da luz do sol; etc… este é o conceito básico também do sistema de produção, de
comércio e de serviço - o tempo de alguém vale o seu lucro ou, como na música de
Milton Nascimento: “a abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou”.
Porque, para se construir um NOME, uma grande quantidade de tempo é demandada,
tanto da pessoa natural como de um produto. Mire-se nas grandes marcas que conhe-
cemos! Foram milhões, ou até bilhões de dólares investidos para que se tornassem
grandes. Todas elas têm verbas de publicidade do tamanho do sucesso que pretendem
ter, e não são somente ações iniciais, devem estar o tempo todo investindo, sob pena
de definhar em pouco tempo. Do mesmo modo, uma pessoa natural precisa investir
constantemente em si mesma para que o seu NOME brilhe e seja respeitado. Deve
cuidar da sua reputação como se cuidasse de uma joia rara.
Inversamente ao esforço para elevar e valorizar um NOME, para desvalorizá-lo é
necessário pouco esforço, de modo que até naturalmente ele se deprecia quando
não há investimentos.
Compreendendo isso, é compreensível também que, por pequeno que seja, há um
desgaste no NOME de quem se empenha em favor de outro, no sentido de utilizar a
sua network para vender um produto ou serviço que não é seu, já que ficará sob as
intempéries de um serviço ou produto que ainda não foi entregue, e que poderá ou
não ser de boa qualidade, além de penhorar o seu NOME num atendimento que po-
derá ou não ser satisfatório e simpático. Tudo ficará nas mãos do terceiro, que dificil-
mente se sentirá responsável por preservar a sua reputação.
Por isso, sempre deve haver uma recompensa, que pode ser financeira ou motivada
por algum tipo de gratidão, envolvimento familiar, dever de retribuir favores ou por
reconhecimento de amizade.
Esta recompensa deve ser avaliada por quem tem a rede de contatos antes de cada cir-
cunstância em que ele poderá ou não empenhar a sua rede, ou parte dela para um amigo
ou conhecido.
Para virtualmente mensurar essas coisas subjetivas, podemos contemplá-las todas como
fossem verbas de publicidade.
Vamos entender: - O segundo instalador fez um bom trabalho e respeitou o meu espaço.
Por isso, sentiu-se à vontade para pedir que eu divulgasse o seu contato entre os meus,
e intercedesse junto ao representante da Mitsuo para o cadastramento que pretendia, o
que aumentaria o valor agregado do seu serviço, já que estaria concedendo a garantia
da marca junto com o serviço. Porém, com relação ao orçamento que me apresentou,
ao final ele majorou o preço do serviço por motivo pífio, mostrando claramente que
está bastante comprometido com os centavos que pretendia acrescentar ao orçamento,
desprezando assim o potencial de negócios que eu poderia oferecer-lhe ao indicá-lo.
Melhor, então, se tivesse dado um pequeno desconto, então teria ele conquistado a
minha admiração e o meu dever de retribuir como gentileza. Mas, ao me sentir mani-
pulado e, de certa forma, enganado, resolvi não oferecer a ele os benefícios da minha
rede e do meu empenho, que certamente lhe traria um lucro muito superior aos cem
reais que acrescentou no preço do seu serviço.
Economizou no que era essencial para o seu crescimento profissional, qual seja, a
verba de publicidade.
Sobre esta visão, perceba no Evangelho de Mateus, em seu capítulo 6, versículo 24:
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se
dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Porque,
um deus é quem ou o que eu elejo para o socorro do espírito e do corpo, já que sou
necessitado de socorro e de provisão. Deste modo, o deus que eu elejo deve ser capaz
de me salvar e, sendo ele o dinheiro, é somente no que ele "ainda" vale onde eu depo-
sito todos os meus cuidados.
O dinheiro te leva ao vício, à dependência e à mesquinhez, que se traduz em miséria.
Deus te leva ao paraíso, à prosperidade e à assertividade. Por isso, o próprio Deus
recomenda: "Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas essas coisas vos serão acrescentadas".
O SERVIÇO DEVE SEMPRE ESTAR ACIMA DO LUCRO